Este Blog tem como principal objetivo falar desta época tão reprimida que foi a ditadura no Brasil,onde a música foi usada como válvula de escape para o protesto, e foi uma das principais ferramentas na tentativa de burlar esta repressão massacrante. E ao mesmo tempo fazer o link entre Serviço Social e a Música na Ditadura.
Em abril de 1964 o Brasil se inseriu na pior fase negra já passada pelo país, a ditadura militar, período que durou 21 anos e no qual somente os militares governaram o país. Foi um longo tempo de enfrentamentos políticos e sociais. O projeto político é caracterizado pelo despotismo, pela extinção dos direitos constitucionais, perseguição política, encarceramento e longo sofrimento dos opositores, além da determinação da censura aos meios de comunicação e à indústria cultural, englobando a editoração de livros e revistas, a produção cinematográfica e teatral, a composição de músicas, que às vezes eram censuradas unicamente pelo nome escolhido pelo compositor, e até mesmo a programação televisiva. Porém, foi a música que mais sofreu com a censura, devido à sua capacidade perspicaz de entrar no inconsciente das pessoas, e por esse motivo vários autores musicais acabaram aprisionados e expatriados, vários discos foram vetados e recolhidos, algumas canções nem chegavam ao conhecimento dos ouvintes.
A música popular brasileira foi tratada como um ser nocivo pelo Estado, capaz de fazer mal à população. Segundo o governo, elas eram ofensivas às leis, à moral e aos costumes. A canção de protesto “Para não dizer que não falei das flores”, do cantor Geraldo Vandré, tornou-se a mais cantada pelos manifestantes.
Houve neste período várias mudanças: destituição de presidente João Goulart e novo presidente, porém, quem assume o poder são os militares, surgimentos de 16 Atos Institucionais, cassação de mandatos, uma série de manifestações por estudantes, etc...
No período em que esteve em vigor o AI-5, mais precisamente de 1968 a1978, a censura federativa coibiu mais de seiscentas peças teatrais, a editoração de vários livros e a inclusão de assuntos essenciais para a carreira escolar das crianças, e especial “a música”.
Assim como Gramsci falava por códigos nos seus cadernos escritos no cárcere, afim de que esses fossem publicados. A música era uma forma de se expressar, embora, subjetivamente na ditadura, pois se nesta houvesse conteúdo explícito os seus intérpretes seriam exilados (apesar de ter acontecido com muitos). Sendo esta a forma de repressão, coibindo a liberdade de expressão artística prevista na constituição – Lei nº 5988, de 14/12/1973 e nº 9610 de 19/02/1998. Somente em 1789 com a Revolução Francesa, os indivíduos têm seus direitos básicos garantidos, mas a constituição é algo em constante evolução, pois o código é teórico e está muito longe de se tornar prático. Diante de tudo isso, acreditamos que a música em si, desempenha um papel importantíssimo na formação da personalidade das pessoas. Assim como qualquer veículo de comunicação, passa mensagens tanto boas, quanto ruins, serve serviu muito para expressar idéias e/ou opiniões sobre determinados assuntos. Foi importantíssima, diga-se de passagem, no tempo da ditadura. Onde qualquer forma de expressão era duramente investigada e punida, se não estivesse condizente com a política que atuava. Então aparecerem cantores que levantaram suas bandeiras através da música, com letras metafóricas. Dizendo nas “entrelinhas” tudo que se tinha vontade de falar abertamente..., isso quando não tinham o desabor delas serem vetadas. Eis a razão para tantas prisões e exílios. Mas com certeza é, foi, e será uma forma espetacular de fazer as pessoas refletirem, tomarem consciência sobre fatos e acontecimentos do mundo. E isso se torna de extrema relevância, visto que existem pouquíssimas pessoas com acesso a outros tipos de informação. A Música está disponível, mesmo às classes mais baixas. É bom ressaltar, que de acordo com os pesquisadores, o momentomaior da música brasileira, e que interferiria diretamente em nossa política era o “TROPICALISMO – A história da revolução musical (Carlos Calado)”.
A bossa nova teve um curto reinado como preferência musical das elites urbanas. O golpe militar de 1964 acabou com a liberdade política e de expressão no país. Contribuiu para a decadência do gênero mais afinado com o “anos dourados”, e não com aquele período negro que tomou conta do Brasil. Surgiu então a MPB, um movimento que tentou representar a resistência musical contra a ditadura. Principalmente a partir de 1968, com a decretação do Ato Institucional nº 5, que instalou um amplo sistema de controle e censura de qualquer manifestação, contrariando à ordem dominante, os artistas da MPB, que se manifestavam abertamente contra o regime, passaram a ser perseguidos e censurados. E o esforço para protestar, mesmo que através de metáforas em suas canções, fez de alguns deles ícones da resistência contra o regime militar.
Existem certas músicas que, mais do que qualquer tratado acadêmico, representam e analisam uma determinada época. Abaixo apresentaremos algumas canções que marcaram gerações:
Final dos anos 60
Nessa época, embora se vivesse a ditadura militar, achava-se que os militares voltariam para os quartéis se houvesse pressão social nesse sentido. Era tempo de sonho, de achar que o mundo poderia se mudado e que o povo unido venceria. Nenhuma canção marcou tanto essa época de esperança e crítica social quanto “Pra não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré"
“Pra não dizer que não falei de flores.”
Autor: Geraldo Vandré
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Década de 70
A história mostrou que os soldados não estavam tão perdidos assim, tanto que arranjaram um jeito de continuar no poder. Todos sabem o restante do enredo: o AI-5 fechou o Congresso, cassou políticos e eliminou os direitos civis. Uma parte da esquerda que acreditava que caminhando e cantando e seguindo a canção conseguiram mudar a sociedade, chegou à conclusão de que as coisas só mudariam através das armas.
Começaram as guerrilhas urbanas e rurais, ambas rapidamente sufocadas pelo regime militar. Sem ter o que fazer, os carrascos voltaram sua atenção para qualquer um que discordasse do regime. A tortura chegou aos intelectuais e artistas. A morte do jornalista Herzog é sintomática desse período. Criou-se uma era de terror, em que qualquer um podia ser a próxima vítima dos militares. No final dos anos setenta, embora já houvesse indícios de que a democracia voltaria (inclusive com o governo dos EUA pressionando nesse sentido), ainda havia o medo. A música Cartomante, de Ivan Lins e Victor Martins (mas que ficou famosa na voz de Elis Regina) é a melhor representação desse período.
“Cartomante”
Autores: Ivan Lins e Victor Martins
Nos dias de hoje é bom que se proteja
Ofereça a face pra quem quer que seja
Nos dias de hoje esteja tranqüilo
Haja o que houver pense nos seus filhos
Não ande nos bares, esqueça os amigos
Não pare nas praças, não corra perigo
Não fale do medo que temos da vida
Não ponha o dedo na nossa ferida
Nos dias de hoje não lhes dê motivo
Porque na verdade eu te quero vivo
Tenha paciência, Deus está contigo
Deus está conosco até o pescoço
Já está escrito, já está previsto
Por todas as videntes, pelas cartomantes
Ta tudo nas cartas, em todas as estrelas
No jogo dos búzios e nas profecias
Cai o rei de Espadas
Cai orei de Ouros
Cai o rei de Paus
Outras músicas como uma ideologia política
“A Internacional (L'Internationale)”
Autores: Letra de Eugène Pottier (1871) e música de Pièrre Degeyter (1888)
De pé, ó vitimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos nós produtores!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Senhores, patrões, chefes supremos,
Nada esperamos de nenhum!
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!
O crime de rico, a lei o cobre,
O Estado esmaga o oprimido.
Não há direitos para o pobre,
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres!
Abomináveis na grandeza,
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha!
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu.
Querendo que ela o restitua,
O povo só quer o que é seu!
Nós fomos de fumo embriagados,
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Façamos greve de soldados!
Somos irmãos, trabalhadores!
Se a raça vil, cheia de galas,
Quer-nos à força canibal,
Logo verá que as nossas balas
São para os nossos generais!
Pois somos do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo.
Pertence a Terra aos produtivos;
Ó parasitas deixai o mundo
Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar,
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar!
“Eu te amo meu Brasil”
Autor: Os Incríveis
As praias do Brasil ensolaradas
O chão onde o país se elevou
A mão de Deus abençoou
Mulher que nasce aqui tem muito mais amor
O céu do meu Brasil tem mais estrelas
O sol do meu país mais esplendor
A mão de Deus abençoou
Em terras brasileiras vou plantar amor
Eu te amo meu Brasil, eu te amo
Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil
Eu te amo meu Brasil, eu te amo
Ninguém segura a juventude do Brasil
As tardes do Brasil são mais douradas
Mulatas brotam cheias de calor
A mão de Deus abençoou
Eu vou ficar aqui porque existe amor
No carnaval os gringos querem vê-las
No colossal desfile multi-cor