1.7.09

A MÚSICA E A POLÍTICA DE CADA ÉPOCA.

Existem certas músicas que, mais do que qualquer tratado acadêmico, representam e analisam uma determinada época. Abaixo apresentaremos algumas canções que marcaram gerações:



Final dos anos 60


Nessa época, embora se vivesse a ditadura militar, achava-se que os militares voltariam para os quartéis se houvesse pressão social nesse sentido. Era tempo de sonho, de achar que o mundo poderia se mudado e que o povo unido venceria. Nenhuma canção marcou tanto essa época de esperança e crítica social quanto “Pra não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré"


“Pra não dizer que não falei de flores.”

Autor: Geraldo Vandré




Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Nas escolas nas ruas, campos, construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações

Pelas ruas marchando indecisos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Há soldados armados, amados ou não

Quase todos perdidos de armas na mão

Nos quartéis lhes ensinam antigas lições

De morrer pela pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Somos todos soldados, armados ou não

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chão

A certeza na frente, a história na mão

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.


Década de 70


A história mostrou que os soldados não estavam tão perdidos assim, tanto que arranjaram um jeito de continuar no poder. Todos sabem o restante do enredo: o AI-5 fechou o Congresso, cassou políticos e eliminou os direitos civis. Uma parte da esquerda que acreditava que caminhando e cantando e seguindo a canção conseguiram mudar a sociedade, chegou à conclusão de que as coisas só mudariam através das armas.

Começaram as guerrilhas urbanas e rurais, ambas rapidamente sufocadas pelo regime militar. Sem ter o que fazer, os carrascos voltaram sua atenção para qualquer um que discordasse do regime. A tortura chegou aos intelectuais e artistas. A morte do jornalista Herzog é sintomática desse período. Criou-se uma era de terror, em que qualquer um podia ser a próxima vítima dos militares. No final dos anos setenta, embora já houvesse indícios de que a democracia voltaria (inclusive com o governo dos EUA pressionando nesse sentido), ainda havia o medo. A música Cartomante, de Ivan Lins e Victor Martins (mas que ficou famosa na voz de Elis Regina) é a melhor representação desse período.


“Cartomante”

Autores: Ivan Lins e Victor Martins



Nos dias de hoje é bom que se proteja

Ofereça a face pra quem quer que seja

Nos dias de hoje esteja tranqüilo

Haja o que houver pense nos seus filhos

Não ande nos bares, esqueça os amigos

Não pare nas praças, não corra perigo

Não fale do medo que temos da vida

Não ponha o dedo na nossa ferida

Nos dias de hoje não lhes dê motivo

Porque na verdade eu te quero vivo

Tenha paciência, Deus está contigo

Deus está conosco até o pescoço

Já está escrito, já está previsto

Por todas as videntes, pelas cartomantes

Ta tudo nas cartas, em todas as estrelas

No jogo dos búzios e nas profecias

Cai o rei de Espadas

Cai orei de Ouros

Cai o rei de Paus

Outras músicas como uma ideologia política


“A Internacional (L'Internationale)”

Autores: Letra de Eugène Pottier (1871) e música de Pièrre Degeyter (1888)



De pé, ó vitimas da fome!

De pé, famélicos da terra!

Da idéia a chama já consome

A crosta bruta que a soterra.

Cortai o mal bem pelo fundo!

De pé, de pé, não mais senhores!

Se nada somos neste mundo,

Sejamos nós produtores!

Bem unido façamos,

Nesta luta final,

Uma terra sem amos

A Internacional

Senhores, patrões, chefes supremos,

Nada esperamos de nenhum!

Sejamos nós que conquistemos

A terra mãe livre e comum!

Para não ter protestos vãos,

Para sair desse antro estreito,

Façamos nós por nossas mãos

Tudo o que a nós diz respeito!

O crime de rico, a lei o cobre,

O Estado esmaga o oprimido.

Não há direitos para o pobre,

Ao rico tudo é permitido.

À opressão não mais sujeitos!

Somos iguais todos os seres.

Não mais deveres sem direitos,

Não mais direitos sem deveres!

Abomináveis na grandeza,

Os reis da mina e da fornalha

Edificaram a riqueza

Sobre o suor de quem trabalha!

Todo o produto de quem sua

A corja rica o recolheu.

Querendo que ela o restitua,

O povo só quer o que é seu!

Nós fomos de fumo embriagados,

Paz entre nós, guerra aos senhores!

Façamos greve de soldados!

Somos irmãos, trabalhadores!

Se a raça vil, cheia de galas,

Quer-nos à força canibal,

Logo verá que as nossas balas

São para os nossos generais!

Pois somos do povo os ativos

Trabalhador forte e fecundo.

Pertence a Terra aos produtivos;

Ó parasitas deixai o mundo

Ó parasitas que te nutres

Do nosso sangue a gotejar,

Se nos faltarem os abutres

Não deixa o sol de fulgurar!



“Eu te amo meu Brasil”

Autor: Os Incríveis


As praias do Brasil ensolaradas

O chão onde o país se elevou

A mão de Deus abençoou

Mulher que nasce aqui tem muito mais amor

O céu do meu Brasil tem mais estrelas

O sol do meu país mais esplendor

A mão de Deus abençoou

Em terras brasileiras vou plantar amor

Eu te amo meu Brasil, eu te amo

Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil

Eu te amo meu Brasil, eu te amo

Ninguém segura a juventude do Brasil

As tardes do Brasil são mais douradas

Mulatas brotam cheias de calor

A mão de Deus abençoou

Eu vou ficar aqui porque existe amor

No carnaval os gringos querem vê-las
No colossal desfile multi-cor

A mão de Deus abençoou

Em terras brasileiras vou plantar amor

Adoro meu Brasil de madrugada

Nas horas que eu estou com meu amor

A mão de Deus abençoou

A minha amada vai comigo aonde eu vou

As noites do Brasil têm mais beleza

A hora chora de tristeza e dor

Porque a natureza sopra

E ela vai se embora enquanto eu planto amo".

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